domingo, 26 de janeiro de 2014

Desenhador de rotas

Você pode deixar tudo como está, conservar-se na sua zona de conforto. Mas haverá sempre a possibilidade de refazermos a rota caso nossa bússola interna aponte erros de cálculo e equívocos na direção. Haverá sempre mais que um caminho. Nunca um único. E a vida é feita de escolhas, aprendemos isso cedo, embora as vezes diante da dúvida inquietante da decisão, preferíssemos passar o ônus adiante, fornecer uma procuração pra que alguém respondesse por nós. A liberdade tem dessas coisas. Imatura é nossa ideia juvenil que acredita que liberdade é a melhor coisa que existe. Não é. Ou melhor dizendo, nem melhor, nem pior. É tão somente a condição de nos dá, como já disse Augusto Comte "o direito de fazer o próprio dever" Não há bônus sem ônus. Normalmente não é isso que acontece, salvo alguns poucos acasos afortunados que excedem à regra esse é o preço e não há como fugir. É o custo da gente crescer, ser gente grande. Todo mundo, nesse andar que é a vida vai se deparar com incontáveis pedras no caminho, porque no meio do caminho tem sempre uma pedra, já avisava Drummond. Até aí é igual pra todo mundo, a diferença é o que vamos fazer com elas: construirmos castelos ou enfiá-las nos bolsos e mergulhar em um rio. As escolhas...

Escritos

Estava escrito nas estrelas, no bilhete entregue pelo pombo correio,foi  profetizado nas cartas, lavrado em ata, perfurado nos troncos das árvores, cravado na pedra, exposto no outdoor, tatuado na pele, pichado no muro, decifrado nos códigos, aconselhado pelos astros. Saiu no jornal, os fogos no céu revelaram, foi desenhado na areia,  descoberto na parede das cavernas, saiu em decreto, virou manifesto, o mapa apontou: Só havia um caminho.

[...]

Amar é um verbo doído desde sua raiz, na sua origem, no seu radical. Amor é dor que desatina sem doer já disse Camões e assim como nos arrebata de alegrias nos preenche de seus contrários. É uma espécie de pacote. Não tem como levar só amor. Não se vende amor no varejo e há sempre a possibilidade, o risco. A gente leva e, pacote aberto experimenta a dor e a delícia. Amor dói principalmente porque no pacote vem junto distância, saudade, convivência com a dor do outro que amamos, perda, frustração, decepção. E que não venham com essa conversa que amor não faz sofrer. Faz sim. Amar dói tanto que até seu contrário que suporia ausência de dor, dói. Desamar dói tanto quanto. É um processo doloroso que não tem a ver com deixar de amar, mas com desaprender para reaprender de um jeito diferente porque há mesmo muitas formas de amor. O amor é uma espécie de camaleão dos sentimentos, troca de roupa e se camufla conforme as circunstâncias. E amar, esse querer estar preso por vontade, dói. Porque sabe-se como barco no porto que sua natureza é o fluxo, o curso, o movimento, que seu destino não é o cais. E é preciso desancorá-lo, soltar as amarras e deixar ir. Desamar é difícil pra caramba! Porque a gente não quer, a gente não quer, mas a gente precisa. Para doer menos! [E.Z]