domingo, 24 de março de 2013

Aos trinta e poucos



De repente a gente acorda e se dá conta. Não temos mais quinze anos de idade. E isso não tem a ver necessariamente com a forma como você se sente. Mas é assim que os outros te veem. Não são poucas as vezes que te chamarão de senhora e você irá torcer o nariz. Você não gosta mas se resigna. Respeito pela sua posição você pensa, tentando encontrar uma justificativa.


Você ainda carrega as coisas da meninice. É boba, imatura, carente, emburrada, teimosa, geniosa. A diferença é que junto com tudo isso você traz uma mochila nas costas carregada de coisas que os acúmulo dos anos inevitavelmente te dão de presente.  Você já viveu muita coisa. Já estudou, batalhou por emprego, já teve seu tapete puxado muitas vezes, fez escolhas importantes, assimilou perdas, já deu a volta por cima, por baixo... Antes você só dava voltinhas. E acompanhada. 

Talvez a gente ainda não saiba. Mas somos as mais bonitas das mulheres. Enganou-se Nelson Rodrigues quando escreveu que toda mulher deveria ter 14 anos. Não Nelson. Elas deveriam ter trinta e oito. Nós já sabemos que uma mulher não diz tudo despindo o vestido. Sabemos também que se for pra sofrer convém ser por uma boa causa  e que não é negócio resguardar-se diante da dor. Pelo menos não por muito tempo. Somos confusas. Vivemos no caos. Mas acreditem. Sabemos bem o que queremos. E o que não queremos. 

Sabemos burlar alguns decretos e já descobrimos o que é ter uma vida interessante. Nos permitimos ser doidas. Já descobrimos que sanidade full time, faz mal a saúde.
Não sonhamos mais em ser resgatadas da torre de um castelo. Mas acreditamos no amor. E queremos que nosso amado enfrente todos os dragões, feras famintas e tudo que ousar interromper nossos passos, como diria Roberto Carlos. Não acreditar é o primeiro passo para não existir.

O problema com esta faixa de idade, dizem, é achar uma que não esteja terminando alguma tese ou TCC. Somos mais inteligentes, informadas e cultas, mas  invariavelmente mais irritadas e histéricas.  Somos um vitral de cores, partes, peças.  Mas não mais desejamos nossas metades. Somos inteiras. Não queremos alguém que nos preencha. Queremos alguém que nos transborde.

Somos Madames Bovarys. Maravilhosas. Nos achamos e merecemos ser achadas.