segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Alados

Porque se instalas
Entre a alma e a pele...
Como pássaro adormecido
Desperta-me de um sonho vivo
Suas mãos em concha
dão-me de comer
Dou-te abrigo
E voamos, criador e criatura
alados como sequer sabíamos
Adormeço eu, descansando sobre suas asas.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Tu e Eu

[Eu ja disse. Ele é genial! Mas leia umas duas vezes...coisa de louco!]

Somos diferentes, tu e eu.
Tens forma e graça
e a sabedoria de só saber crescer
até dar pé.
Eu não sei onde quero chegar
e só sirvo para uma coisa
- que não sei qual é!
És de outra pipa
e eu de um cripto.
Tu, lipa
Eu, calipto.

Gostas de um som tempestade
roque lenha
muito heavy
Prefiro o barroco italiano
e dos alemães
o mais leve.
És vidrada no Lobão
eu sou mais albinônico.
Tu, fão.
Eu, fônico.

És suculenta
e selvagem
como uma fruta do trópico
Eu já sequei
e me resignei
como um socialista utópico.
Tu não tens nada de mim
eu não tenho nada teu.
Tu, piniquim.
Eu, ropeu.

Gostas daquelas festas
que começam mal e terminam pior.
Gosto de graves rituais
em que sou penitente
e, ao mesmo tempo, o prior.
Tu és um corpo e eu um vulto,
és uma miss, eu um místico.
Tu, multo.
Eu, carístico.

És colorida,
um pouco aérea,
e só pensas em ti.
Sou meio cinzento,
algo rasteiro,
e só penso em Pi.
Somos cada um de um pano
uma sã e o outro insano.
Tu, cano.
Eu, clidiano.

Dizes na cara
o que te vem a cabeça
com coragem e ânimo.
Hesito entre duas palavras,
escolho uma terceira
e no fim digo o sinônimo.
Tu não temes o engano
enquanto eu cismo.
Tu, tano.
Eu, femismo.

(Luiz Fernando Veríssimo)

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Outono

 (imagem de autoria desconhecida)

Você levou junto meu impulso, minhas palavras. Sua falta  provoca afasia. Eu, este outono laranja opaco, um tapete de folhas secas, mar de cor em tom pastel. Aproveito o sopro, vou no embalo, flutuo por alguns segundos. Doo com a queda. Álcool em cima do corte. Esparadrapo em forma de xis. Sua falta e as minhas  feridas. Você levou junto os sons, os ruídos, a melodia. Sua falta provoca silêncios. Absurdos. Há uma moleza que só não  paraliza porque com esforço a gente aprende a ver um pouco a frente, força a vista pra enxergar e a cabeça que é pra acreditar. Sua falta provoca dormência. Bem do fundo a voz que diz: Não assuste. A casa vazia, a rua escura, o espelho que só reflete sua imagem. Fosca. Não assuste.  Esta é você sem disfarce, sem máscara, sem outro cheiro que camufle o mofo. Sua falta provoca encontros. E a queda, os abismos, os imensos buracos negros. Mas é o escuro que ainda me salva. O grito que não sai e o eco. Pra dentro. Sua falta provoca vazios.
Eu, oca...e sua falta que preenche tudo.

domingo, 12 de junho de 2011

Amor é o que se aprende no limite,
Depois de se arquivar toda a ciência
Herdada, ouvida. amor começa tarde.