domingo, 27 de setembro de 2009

Incandescência

Imagem: Luiz Carlos de Carvalho

E sob a lua
despida...
O amor tecendo
Vontades
Dos versos bordados no lençol
daquela poesia que arde.
E nessa nossa trama
Se você chama...
Eu fogo.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

De(cor)ando vitrais

Imagem: Ana Castilhos

Meu todo são esses pequenos cacos diários. Nem sempre o que parte se quebra. Há inteireza nos pedaços. Há que se enxergar com cabeça e coração. Olhos só vêem. E há que se permitir dar o segundo passo. Há ainda que se aprender a decorar vitrais: cores, texturas, formas...
Igual como nos tempos de meninice, deitada no chão, pernas para o ar, quando eu passei a enxergar que as coisas, o mundo, é feito de encaixes. Cada peça no seu lugar...um pedaço da árvore, o telhado da casa... Devagar e sem distração. Ao final um sorriso largo colava no meu rosto. Eu aprendia a viver.
Viver é procurar encaixes, alguém disse. Mas para que haja encaixe é preciso que cada parte seja incompleta. Pra fazer sentido. Quando as duas partes se encaixam a felicidade acontece. Sem contudo, deixarem de ser partes, ocos, cacos...Porque quem ama é pobre, está sempre à espera, à procura.
Mas a louça de porcelana - essa não teve jeito. Era o seu presente mais caro. E o meu coração disparou, e você me afogou com suas lágrimas. Eu pensei que naquele instante minha avó morrera para sempre. E me cobri de tristeza. Por você. Porque você não entendeu que cacos viram pó. E que não há forma de ser outro sem antes virar pó.
E eu aprendi a me descuidar cada vez mais. Porque viver é assim. Viver é um descuido prosseguido. (Guimarães Rosa)

Imagem daqui

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Quando o que resta é o amor

Ilustração: Misstigri

Uso roupa de festa. Abrigo um sorriso. Escolho com qual som inauguro os silêncios. Celebro o dia. Esqueço os restos de ontem. Ando sobre a corda bamba. Desiquilibro. Respeito os sinais. Domo a selvageria. Conheço o que os anjos desconhecem. Abomino a auto-piedade. Digo sim aos que repartem sua existência. Não, se meus juízes condenam. Aceito o convite à farra de viver, ainda que os olhos garoem e molhem a tarde de melancolia. Eu já aprendi a sair de cena sem ganhar aplausos. Descobri que há sempre uma pessoa para cada coisa terna. E há dias para se embrulhar pra presente. Não se volta ao que acabou. Há a saudade querendo falar em palavras o que temos medo de pronunciar. E há a distância quando se percebe que se ama melhor ficando invísível. Acordar é dar cor, nesta minha visão. Recordar é recolorir onde faltou você. E há que se cuidar, quando o que resta é o amor.