segunda-feira, 30 de março de 2009

Intransitável


Foto: Mariah

Este coração
área sujeita à desmoronamentos
Esse corpo
para sempre de mão única
Esse amor
para sempre, sem retorno.
Nesta avenida
Sinal vermelho pra você.

sábado, 28 de março de 2009

Sem Medida

Dispenso a métrica
a receita, a exatidão,
Dispenso a regra,
o modelo e o padrão
Dispenso toda certeza
e qualquer explicação.
Porque a vida,
A vida só tem graça se for inventada
E, ou se tem graça ou vira desgraça.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Última ceia

Um hálito de música ou de sonho soprava sobre o vácuo das lembranças dançando em sua mente ao ritmo de Stones. Mirou o nada buscando o espelho em que deixara perdida sua face.

O corpo, boêmio de sua matéria, repousava. O pensamento, à mercê de sua vontade insistia em mais uma vez, visitar-lhe. Guardava ainda na memória mais imediata o trajeto que tantas vezes percorrera, vindo agora, de súbito da direção da prateleira empoeirada como já era tempo de estarem aquelas imagens que lhe absorviam a alma.

Decidiu dar fim àquele assédio. Um taça cheia de desejos, sensações, frases, presentes, discos, beijos... sorvidas gole a gole. Um a um desejava que se volatizassem . Grudava em sua pele, seu cheiro; em sua boca, seu gosto. Sentia-se impregnada como o álcool que circulava sobre suas veias. O peito, uma caixa preta. Embriagada partiu para o último gole...

Entre os fantasmas que rondavam-lhe nenhuma pista de que infinito aqueles olhos aperolados estariam mirados.


Apagadas estavam as luzes dos postes. Apagada estava sua alma. Nem as estrelas ousavam brilhar.

Era escura a noite. Era amargo o doce e solitário Bordeaux.

sábado, 14 de março de 2009

Sobre poetas e poesia


Pra isto fora criado
Ainda, no sétimo dia
Pra falar dos girassóis
e dos beija flores
dos enamorados
e dos amores.
Poesia perfeita do criador
A rima, a inspiração.
E Deus fez o poeta
e viu que era bom.
E ainda, no sétimo dia
Juntos, admiraram a sua criação.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Segredos

Não acredites em minhas palavras porque elas são demasiadamente traiçoeiras. Elas pensam demais e são coloridas de verniz. Minha verdade é minha crença e minha crença é mentirosa. Apenas me aquieta e me distrai, enquanto o sol me chama e a lua me põe pra dormir.
Não acredite , elas são uma farsa.
Se quiser saber de mim, meus olhos são pedra bruta em rio de águas transparentes. Neles não cabe a racionalidade dos homens que pensam. São tão verdadeiros que as vezes chegam ser cruéis, desnudando uma alma que já não guarda a inocência que eles ainda mantêm.
Minhas palavras tem argumentos demais. Mas são meus olhos que me dizem pra que tome cuidado, meus olhos não conhecem contradição.
Minhas palavras me narram, meus olhos me sentem.
Minhas palavras são história; meus olhos, só poesia.
Por isso quando quiser saber de mim, não ouça minhas palavras, elas ainda não aprenderam amar.