segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Rico menino pobre

Foto: Maria Flores

Minhas palavras foram retribuídas com um sorriso acanhado. Disse-me que sentia saudade, mas que estava feliz porque logo, outra vez nos veríamos.
Seus sonhos em preto e branco confundem-se com pessoas, carros, ruas, ruídos e esmolas. Conhecera a face austera da pobreza cedo demais. Coleciona perdas, esperanças e latinhas. Tudo dentro da retina dos olhos do menino, que estranhamente brilha, refletindo uma luz fúlgida, como em poucos se vê.
É apenas número, mais um. Anônimo, vagante, sonhando em um dia poder tocar à lua com as mãos ou quem sabe, na gravidade desse planeta errante, ser mais que a roupa desbotada que lhe encobre o corpo franzino.
Trocamos afeto, lições dos livros e lições de vida.
Olho-o por instantes enquanto anda...
Ele volta, desabrochando em sorrisos, agora para se despedir:
_ Até segunda então!
Nenhuma nódoa de tristeza.
Seus olhos miúdos abrigam duas estrelas.

Meme

Fui vitimada, digo, indicada :-) pelo Fred para este meme:

1-Agarrar o livro mais próximo;

2-Abrir na página 161;

3-Procurar 5ª frase completa;

4-Colocar a frase no blog;

5-Repassar pra 5 pessoas;

Bom, o livro mais próximo era um dicionário :-)
Ao segundo mais próximo então:

É fácil de ver que se Caim e Abel realmente tivessem existido como filhos primeiros do primeiro casal humano, não teria Caim encontrado mulher para com ela se casar.
( Extraída do livro Os Exilados da Capela de Edgard Armond)

O convite para seguir o meme vai para os amigos que passarem por aqui.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Absoluto

Foto: Deivid Jardim de Araújo

Derramo-me sobre o papel, encharcando-o de sentimentos, de quereres, de vazios...
Escrevo meus exílios, faço-o cúmplice dos meus silêncios.
Escrevo mistérios sem compromisso. Não desejo a explicação, respeito-os apenas, privando da sua identidade.
Selamos nosso pacto. Não de vida, nem de morte. Não é disso que me faço. Revigoro-me no inusitado, na catarse, espasmo de um transbordar-se latente desse desabitado ser.
Reside em mim um não saber, uma falta que alimenta o desejo, a calidez, a volúpia de sentir.
Completo-me nas palavras e naquilo que faltou dizer, mas que direi da próxima vez, no próximo verso, que virá perfeito, capaz de traduzir o que ainda só sei sentir...
Em todos os versos, enquanto houver sol.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Feliz Dia Novo



Foto: Pedro Rodrigues



Fiquei parada, sentindo... O sol adentrando a janela, rompendo a barreira de vidro , me desejando bom dia. Senti e apreciei. Sol acordando de manhã, assim , lânguido, preguiçoso. Como gosto! É uma das sensações mais agradáveis que já senti, lembra abraço.

Feliz dia novo, foi o que me desejei. Porque no corre-corre de todo dia a gente nem sempre se deseja um bom dia. Ouve na rua, no trabalho, na escola, mas nem fala com tanta convicção e nem absorve direito.

Andei hibernado nos últimos dias. Mesmo com o sol lá fora me convidando para a farra de viver. Hoje, logo cedo, aceitei o convite. Fui caminhar. Vi alguns amigos, respirei devagar, sorri e comprei sementes de gérbera. Na volta um suco gelado e o som de Margarete Menezes e Luis Represas.

Meu filho me esperou com um cartão feito por ele onde escreveu: "Mãe as vezes você é xata mas eu gosto de voce!" Só assimilei o final. Beijei-o.

Recebi uma ligação de uma amiga que está morando longe e com quem não falava há muito tempo. Que agradável surpresa! Tive certeza, felicidade é feita de momentos, na grande maioria das vezes, breves e simples.

E a gente fica esperando grandes acontecimentos, ingenuamente pensando que são estes que nos farão verdadeiramente felizes. Podem até fazer, mas convenhamos, eles são raros. E aí vamos esperar que aconteçam para só então sermos felizes?

Lembrei dos versos de Drummond:



Para ganhar um ano novo

que mereça esse nome,

você, meu caro, tem de merecê-lo

tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil

mas tente, experimente, consciente.

É dentro de você que o Ano Novo

cochila e espera desde sempre



Um ano novo, começa sempre com um dia novo e um feliz dia novo pode ser um dia qualquer. Os dias não acordam todos iguais. Basta olhar devagar. As vezes são pequenas coisas, as vezes, grandes acontecimentos, as vezes apenas o sol te convidando pra passear.



Feliz dia novo!


terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Prolongamento

De tudo quanto já foi
Da efemeridade da vida
Existe o eterno
Sentimento renitente...
Das angústias que não mais consomem
Às dores que já não se sente
Lágrima que já não verte
Às sensações do corpo dormente.
Mas existem,
Porque são a intensidade
das coisas que guardam beleza
Das que não mais existindo,
Ainda são.
E são
Porque transcendem
E tão demoradamente
E com tão divina força
Que são mais vivas
que a própria vida.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Precisa, perfeita

Foto: Hideshiro Kakuda Jr.

Não devemos ter medo do confronto. Até os planetas se chocam. E do caos nascem as estrelas.

Charles Chaplin

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Saudades de mim

E foi isso... Soou o meu toque de recolher e eu decidi que vou cuidar de mim. Me amar ao ponto de não mais ser refém de outros carinhos. Uma tentativa de felicidade auto-sustentável. Não é egoísmo, nem prepotência. É desejo. Desejo de ser livre. E um não desejo de outorgar à outras pessoas uma responsabilidade que é minha.
Quero amigos, carinho, paixões, amor, reconhecimento, elogios, surpresas... Mas quero atingir a minha maioridade emocional.
Tenho estado só. Mas vivo uma solidão boa. Foi Sartre quem disse "Deus é a solidão do homem". Estou comigo e estou em paz.
E Fernando Pessoa, (muitos disseram, a solidão é inspiradora) "Enquanto não vivermos a dor da nossa própria solidão, continuaremos a nos buscar em outras metades". Para amar o outro, precisa se amar mais. E se amar é descobrir-se inteira. E eu me amo quando compreendo que ausência não é falta. E que amar não é acabar com a solidão, é compartilhar solidões.
Estou bem, estou apenas matando a saudade de mim.

Sobre isso indico uma crônica de Rubem Alves: O Barba Azul

domingo, 11 de janeiro de 2009

Dama de Vermelho

[...]
Quando nos reencontramos
Muitos anos mais tarde
Disse-me que não mais me reconheceria
Não fosse pelo meu cheiro
Que ainda exalava do seu paletó.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Ceifadora de Almas

"Por favor confie em mim. Decididamente, eu sei ser animada, sei ser amável. Agradável. Afável. E esses são apenas os As. Só não me peça para ser simpática. Simpatia não tem nada a ver comigo." ( A morte)

Aproveito meus dias de ócio para por em dia a leitura de vários livros iniciados e abandonados na estante por pura falta de tempo. Esse fora presente, A menina que Roubava Livros, de onde extrai a citação anterior.
Eu tenho tentado, mas a morte pra mim, ainda e especialmente hoje é o retrato do assombro, da perplexidade, do estarrecimento.
Hoje ela me roubou um amigo da forma mais vil, estúpida, cruel, injusta e desumana que poderia ter feito. Eu até entenderia se ela chegasse mansa, sem sofrimento, longe do horror, dos hospitais, sem sangue, sem dor e quando estivéssemos entre as pessoas mais queridas. Mas hoje, ela preferiu chegar assim, como pode pedir então que ainda confie nela???
Hoje, para mim ela voltou a apresentar-se encoberta com um manto preto e um capuz carregando em uma das mãos uma gadanha e na outra uma foice.
Dizem por aí que a vida é um sopro. Não é. A vida é uma chama que arde. A morte é que é um sopro. Que apaga a chama deixando a gente perdido em meio à escuridão.
Tento buscar nas minhas crenças uma explicação satisfatória para acontecimentos como este. Segundo estas, muitos espíritos se oferecem em sacrifício para auxiliar outros, em processo de evolução mais lento, sanando assim, algum débito anterior e cumprindo dessa forma seu próprio processo de aprimoramento. Mas por ora, nem esse entendimento conforta.
Quando uma pessoa por quem tínhamos apreço se vai, com o tempo a gente aprende a aceitar a morte. Difícil é conviver com a tristeza. Conforta apenas constatar que enquanto vivera, fizera isso no sentido mais amplo da palavra. Intensamente. Mário Quintana uma vez escreveu: "Morrer, que me importa? (...) O diabo é deixar de viver." Tem gente que morre, sem nunca ter vivido.
Ficam na minha mente um série de porquês e uma constatação que só faz aumentar a minha dor: Na trajetória efêmera do relógio existencial, o nascimento e a morte estão bem próximos. Na vida, tudo é provisório. Inclusive nós.
Fica no meu coração uma dor e uma verdade: Morte é onde mora a saudade.
Uma última nota: os seres humanos me assombram. ( a morte)

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Para Marisa

Eu duvidei por não reconhecê-lo possível. Porque você chegou sem avisar. Eu, como flor que se fecha ao entardecer e é a(cor) dada no dia seguinte com um calorzinho bom mandado só para fazer revelar sua essência, a mais cheirosa. Fiquei sabendo depois. Você atendia pelo nome de amor.

Você, que me olha sempre tão devagar, quando a maioria se ocupou em me olhar tão rapidamente. Amizade que chegou sem promessa...assim, bateu-me à porta simplesmente pedindo abrigo e eu, que por hora me alimentava de sonhos de cotidianos estreitos vi meus dias sendo coloridos em tons azuis que me emprestava.

Uma cervejinha gelada(...) e prosa, vez em qundo feita em verso, qualquer coisa trocada por aquelas melancolias bobas de uma tarde de domingo.

E o abraço que inventamos... disfarce que a vida sempre tem pra fingir que é sempre bela. É quando o amor é tudo! É quando tudo fica melhor...

Quantas palavras destinadas a definir tantas razões desconhecidas.
Assim pudesse o poema como pedra esculpida, revelar toda a beleza que existe no azul dos nossos dias e traduzir a leveza dos nossos verões. Nossa estação mais bonita.