sábado, 26 de dezembro de 2009

Streap Tease

Desconheço autor da foto

E se chega assim
sem pedir licença
Me lê
me narra
descreve
decifra meus códigos
encriptados...
e me deixa assim...
desnuda
sem resposta
de que me vale
o corpo fechado
se a alma é exposta?

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Imagine

Glee Cast - Imagine from Bárbara Letter on Vimeo.

Finda 2009 e novos ciclos se configuram. Não porque o ano termina, já que cumprimos rotas independentes, mas porque assim a vida acontece. Ora, somos mutáveis, modificáveis, insatisfeitos, ambiciosos, ávidos. Completa-se o ciclo da terra em torno do astro maior, o que nao significa que concluímos o nosso, do lado de cá, debaixo desse céu anil, embora assim pareça...A gente acredita, que o que nao foi assim tao bom, na útima badalada do sino, ja era. Paz e felicidade aos homens de boa vontade porque um ano novo começa. Assim reza a sabedoria popular. Ano novo, vida nova e as esperanças se renovam e a gente faz planos, traça metas possíveis e improváveis e despendemos energia demais com coisas pouco importantes...E transformamos o planeta num lugar inóspito. Consumimos demais. Poluímos demais. Trabalhamos demais. Vivemos de menos. Desejamos saúde e continuamos envenenando o planeta. Desejamos paz e continuamos ouvindo que a guerra é necessária para se chegar à ela. Paradoxo. Desejamos a felicidade ao custo de nao ver, de negar. Não assistir ao noticiário para nao ver os corpos assassinados, as crianças com cancer.Desviar do pedinte para nao passar o resto do dia mal, culpando-se por ter uma vida digna. E nos lastimamos, entristecemos, adoecemos quando descobrimos que a espiritualidade absoluta é um caminho longo cravejado de barbárie e desamor.
Mas renovamos nossa esperança de que a humanidade não é uma ilusão à toa. De que viver é uma arte, um ofício: Ser feliz, apesar de todas as dores do mundo. Portanto quando o relógio marcar 24 horas do dia 31 de dezembro, um novo ciclo começa, ainda que apenas nas nossas mentes e nos nossos corações. Feliz novo ciclo. Feliz Ano Novo e imaginem, por favor!

Um feliz novo ano especial à todos os amigos que aqui me lêem e deixam seus comentários sempre tão amáveis. Vocês são o rio da minha aldeia, o mais belo rio da minha aldeia (parafraseando Pessoa), o melhor presente que um ser humano pode ter.
Palavras que pretendem ser beijos...

Bilhete


Um bilhete amassado no bolso
Tão contido
na caligrafia miúda
do pequeno poeta.

Um bilhete amassado no bolso
e um sorriso que se mistura
às letras tão livres
Despreocupadas...

Um bilhete amassado no bolso
Redigido a letra torta
E um desejo quase oculto
No borrão azulado

Um bilhete amassado no bolso
Poeticamente rabiscado...

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Instantes que digo


Há momentos
E há palavras
guardadas por entre a memória.
Há instantes...
pequenas flores beijadas pelo orvalho
que desabrocham nessas manhãs tão azuis
E antes que a gota escorra por entre o leito
Antes que a sombra se faça,
no derradeiro das frases
a pena descreve o sentir
e desenha nossa paisagem mais bonita
De tudo então o que nos resta...
Há ainda as nossas primaveras
Há mar, amar, amar...


What Is A Moment?

O que é o momento
Senão o lápis de Deus
Numa fração de segundos
Em que tudo no mundo
Arquiteta “O Você”

Este eu mais preciso
Neste inteiro destino
Por amor infinito
Mar de um sonho divino
Que acabou de nascer

E as marcas que ficam
Contam instantes que a lira
De uma forma tão simples
Explodiu num querer

10/12/09
Ao Som de Moments
http://www.youtube.com/watch?v=jNVPalNZD_I

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Quer saber?



Combina comigo...

Uma rede pra balançar

Um leque pra abanar

Uma paixão pra queimar

Um desafio pra enfrentar



Poesia boa pra ler

Chá quente pra beber

Um amor para esquecer

Uma barba por fazer.



Prefiro...

Frio ao sol

Tênis ao futebol

Pele ao baby doll

O subentendido ao descarado

O definido ao sarado

O movimento ao parado

E latido a miado



Interior à capital

Açúcar ao sal

Véspera ao natal

Alegria ao carnaval

Botar os pingos nos is

Viver assim, por um triz

Prefiro mesmo é ser feliz.



Não gosto...

De domingo ao sol se por

De quem se omite a se opor

Cerveja fora do isopor.

De quem é apenas vitrine

E de humor que não combine



De não me toque e frescura

De pneu na cintura

De homem covarde

E de mulher que faz alarde.



Não uso bússola, nem mapa.

Não sigo a seta

Nem vi a placa

Eu vivo perdida

[de amor.]

domingo, 15 de novembro de 2009

A-m-a-r-é

Imagem: Kenvin Pinardi

Foi na hora mais bela da tarde
Enquanto o mar explodia em fúria
E um quase silêncio
Adoçava o meu cansaço
Enquanto o vento beijava-me a face
Trazendo previsão de calor
Foi assim...
nas profundezas desse sentir azul
Entre um sopro e uma onda quebrando
Sobre a areia a poe-mar
Disse-me...
Que o amor é essa gravidade suave
do meu sol a lhe orbitar
E que a-mar(é) o suspiro das ondas
Que a areia vêm beijar.

(...)
E desde então
Eu passo os dias
a dar notícias do mar.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Paradoxal.

(Desconheço autor da foto)

Nós saímos para brincar de noite
queríamos segurar aquela mesma lua
que beijou-nos
enquanto dormíamos
e o calor
da nossa falta de ar enquanto corríamos
Amam-me demasiadamente
as coisas breves de profundidade
E me demoro nessas urgências
Que me aproximam de lonjuras
Meu prazer é dor
O que me liberta, me acorrenta
O que sai de mim, o que me resta
Transborda em mim a sua falta.

domingo, 18 de outubro de 2009

Acontece que o mundo é sempre grávido de imenso.

E os homens, moradores de infinitos, não têm olhos a medir.

Seus sonhos vão à frente de seus passos.

Os homens nasceram para desobedecer aos mapas e desinventar bússolas.

Sua vocação é a de desordenar paisagens.

(Mia Couto)

domingo, 4 de outubro de 2009

Eternuridade

Queria dizer do menino que deve não saber que hoje é dia de domingo e faz sol. E que domingos são de sorrisos, de doce, cocada preta e flores de dentro.
Para dentro, o menino é só e silencio. Do jeito de quem segura a dor. De quem cresceu às pressas e já esqueceu da ciranda e do bicho-cola. De quem brinca de futuro sem naves ou foguetes. De quem os olhos não ousam digirir-se para cima, nem para o lado. De vida que já conhece o sabor do sal. Do sal que escorre pelo leito do rosto miúdo.
Agora as sombras e a minha auto-insuficiência. Uma tristeza suave e demorada e eternuridade precipitada. Tanta...
Obrigado
, foi só o que disse. Bem baixinho. A palavra amor é tão pequena e frágil. Para todas as outras não há razão. É só tentativa vã de tirar essa farpa.

domingo, 27 de setembro de 2009

Incandescência

Imagem: Luiz Carlos de Carvalho

E sob a lua
despida...
O amor tecendo
Vontades
Dos versos bordados no lençol
daquela poesia que arde.
E nessa nossa trama
Se você chama...
Eu fogo.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

De(cor)ando vitrais

Imagem: Ana Castilhos

Meu todo são esses pequenos cacos diários. Nem sempre o que parte se quebra. Há inteireza nos pedaços. Há que se enxergar com cabeça e coração. Olhos só vêem. E há que se permitir dar o segundo passo. Há ainda que se aprender a decorar vitrais: cores, texturas, formas...
Igual como nos tempos de meninice, deitada no chão, pernas para o ar, quando eu passei a enxergar que as coisas, o mundo, é feito de encaixes. Cada peça no seu lugar...um pedaço da árvore, o telhado da casa... Devagar e sem distração. Ao final um sorriso largo colava no meu rosto. Eu aprendia a viver.
Viver é procurar encaixes, alguém disse. Mas para que haja encaixe é preciso que cada parte seja incompleta. Pra fazer sentido. Quando as duas partes se encaixam a felicidade acontece. Sem contudo, deixarem de ser partes, ocos, cacos...Porque quem ama é pobre, está sempre à espera, à procura.
Mas a louça de porcelana - essa não teve jeito. Era o seu presente mais caro. E o meu coração disparou, e você me afogou com suas lágrimas. Eu pensei que naquele instante minha avó morrera para sempre. E me cobri de tristeza. Por você. Porque você não entendeu que cacos viram pó. E que não há forma de ser outro sem antes virar pó.
E eu aprendi a me descuidar cada vez mais. Porque viver é assim. Viver é um descuido prosseguido. (Guimarães Rosa)

Imagem daqui

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Quando o que resta é o amor

Ilustração: Misstigri

Uso roupa de festa. Abrigo um sorriso. Escolho com qual som inauguro os silêncios. Celebro o dia. Esqueço os restos de ontem. Ando sobre a corda bamba. Desiquilibro. Respeito os sinais. Domo a selvageria. Conheço o que os anjos desconhecem. Abomino a auto-piedade. Digo sim aos que repartem sua existência. Não, se meus juízes condenam. Aceito o convite à farra de viver, ainda que os olhos garoem e molhem a tarde de melancolia. Eu já aprendi a sair de cena sem ganhar aplausos. Descobri que há sempre uma pessoa para cada coisa terna. E há dias para se embrulhar pra presente. Não se volta ao que acabou. Há a saudade querendo falar em palavras o que temos medo de pronunciar. E há a distância quando se percebe que se ama melhor ficando invísível. Acordar é dar cor, nesta minha visão. Recordar é recolorir onde faltou você. E há que se cuidar, quando o que resta é o amor.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

SO- L- RISOS

Foto: Bruno Jorge Shinn Andrade

Pra vestir, roupa leve... faz sol lá fora e eu reconheço a primavera se aproximando aqui dentro. Há flores e aromas em mim. Na boca, o mesmo batom cor de lábios. Um corretivo para encobrir os sinais das horas e um toque rubro pra realçar o viço da pele. Nos olhos... apenas o brilho que você colocou neles.

sábado, 22 de agosto de 2009

Des - amor - tecendo

Sabes... saberás sempre
Que meus abraços,
afagos, cansaços
Conhecem a direção
A rota,
O destino...
Sabes...
Que ainda vagante
Só e ausente
Em lugar qualquer
Ou hora do dia
Haverão de se encontrar
Sua mais terna lembrança
Minha mais doce poesia.
E quando minhas palavras
Te abraçarem em silêncio
Saberás então, para sempre
Que o amor que vive em mim
Desconhece o tempo
É infinitivo e infinito...

Foto: Fernando Figueiredo

domingo, 9 de agosto de 2009

Em algum lugar do passado...

Essa foto pai, lembra? Você aproveitou o fotógrafo na festa. Era uma daquelas que aconteciam todo janeiro em honra a São Sebastião, aquele da história do bandido que morreu com uma flecha no peito sem saber quem atirou. Lembra quando decoramos essa música para cantar na missa? Eu achava ela linda. E desse sapato pai, você lembra? Foi você quem comprou ele pra mim. Eu amava esse sapato. Teve aquela vez que o cachorro do nosso vizinho me mordeu, aquele que morava em frente à igreja. Você prometeu matar o canídeo ensandecido... acho que alguem fez isso antes de você.
Eu com a perna inundada de sangue, você me pos dentro do seu fusca branco pra me trazer pro hospital e eu chorava pedindo pra você tirar meu chinelo e me por o sapato vermelho... Essa roupa foi minha mãe quem bordou pra mim. E as cacharréis... eu odiava cacharrel. Lembra do casamento da tia Hilda, vocês me vestiram com uma amarela e ainda me obrigaram a tirar foto com a noiva. Sacanagem hein pai!

E essa sua camisa! Eu lembro até qual era o desenho no bolso dela. Parecia um jogo da velha. Você estava elegante hein pai!
Quantas lembranças me vieram agora. Quantas histórias... Você envelheceu, eu cresci.
Mas essa pai, essa é pra gente nunca esquecer...

domingo, 2 de agosto de 2009

De repente...para sempre

Foto: Carlos Gomes

Um qualquer dia
perdido no tempo.
Qualquer número...
Meia duzia de palavras
Qualquer ideia trocada...
Um por acaso, de repente...
Um instante qualquer...
Um para sempre...


domingo, 26 de julho de 2009

Dos amores mais ternos


Foto: Ana Meireles

É quando a gente sente que metade da gente é o que se traz essencialmente, e a outra metade é o que fazem da gente. São palavras, afagos, carinhos... o que nos eleva e nos faz ir adiante ou o que nos faz parar. Não para estagnar, mas para pensar o quanto nos vale seguir.
São eles... os amigos que emprestam vozes aos nossos silêncios, retiram nossas vidas da singularidade e nos fazem dilatar os significados do mundo.
Alguém, algum dia escreveu que do encontro entre duas pessoas, sempre nasce uma terceira. Essa terceira pessoa é o que nos tornamos, uma espécie de derramamento, transbordamento do que somos.
Amigos são assim. O lado bom da nossa mais perfeita incompletude. A vitalidade e a força da nossa velha fragilidade.
E a gente sabe como reconhecê-los, porque não trazem em seus rótulos prazos de validade. E a gente cuida e preserva com o zelo com que guarda um diamante: extremamente resistente e frágil.
É dessa delicadeza que nascem os amores mais verdadeiros e menos complexos. A poesia não é encharcada de querer. É consciente e terna.
E no meio de tantas gavetas, um compartimento interno, reservado para guardar nossos tesouros mais valiosos. Negociamos espaço. Um pouco da minha dor, um tanto do seu amor, ou vice e versa. Habitamos esse compartimento profundo, próprio das pessoas que não sobrevivem na superficialidade. E guardamos a intensidade do sentimento mais nobre que nos faz mais unos, das rimas mais imperfeitas para a poesia mais bela.


Amigos...Perdoem-me pela ausência. Imensamente agradecida pelo carinho de sempre.

sábado, 27 de junho de 2009

Da janela

Quando ela estava por perto era como se o mundo fosse melhor. Ele de fato, não sabia se era bom, sabia apenas que aquele par de olhos tão azuis e as costumeiras frases de duplo sentido o faziam rir e a pensar que aquilo fosse felicidade.
Ele sentou sobre o banco empoeirado da praça. Pegou-a pelas mãos e os olhos azuis pareciam desejar dizer coisas que a boca não mais dava conta. Lembrou do último encontro e da covardia diante de seus sentimentos. Eu preciso! Pensou. E antes que ela perguntasse alguma coisa...Perdão. Não devia. Não devia? Preciso ir. Espera! Eu já sei. Sabe? Sim. E beijou-o demoradamente.
Da janela, os cotovelos apoiados no parapeito, ele a viu sumir por entre as árvores da rua. Olhou para o recorte do jornal já amassado em suas mãos, sorriu e aumentou em mais um os beijos de sua coleção.

sábado, 13 de junho de 2009

Saudade

Trocando em miúdos
Se quer saber
Foi qualquer coisa assim
A brisa revelou teu cheiro
Vendaval,
Chuva em mim
Ah saudade!
Que tormento
Pros meus dias
só o lamento...
Mas desisto, vou-me embora
Você fica sem saber
Porque saudade
É um sentir tão grande
Que trocando em miúdos
Não sei dizer.


Foto: R. Gonçalves

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Um caso gramatical

Porque hoje é dia dos namorados...
(Postagem que fiz para o R.E.M. - Rapid Eye Movement - Blog em parceria com meu amigo José Roig.)

Ele, sujeito simples
Artigo bem definido
Fazia um gênero assim, primitivo.
Ela, monossilábica solidão.
Procurando seu verbo de ligação.
Se encontraram...
deu-se a conjunção.

Ela átona
Ele, um hiato silencioso
Mas era fato, estava posto
Mera análise sintática
Do seus pretéritos tão imperfeitos
Para o seus períodos compostos.

(...)

E o futuro
Estava escrito
E nas letras
A semântica existencial
Uma aliança selada
Um complemento nominal.
Por amor e concordância
E não havendo nada a mais
Uniram em cerimônia
suas sílabas bilabiais.
E seguem assim, juntos
Para o verbo amar
Até o infinito conjugar.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Uma pausa

Uma pausa, por favor
Só por agora, não tardo
Tomo-me de silêncio
Aquieto e resguardo
Abrigo-me...
Uma pausa,
Para a lágrima
o sorriso,
a cifra
a memória.
Uma pausa,
Não tardo
E quando tudo se for,
Aprisionado na retina
ficará o instante.
E ao fechar e abrir
dos meus olhos,
Tão mais breves
serão as lembranças.

Foto: Mariah

domingo, 7 de junho de 2009

Sentidos

Foto: Helene

Abriu o frasco e a imagem dele inundou o quarto. E já não era mais o cômodo vazio. Ficara impregnada a cortina, a almofada, o travesseiro... O café. Até o resto de café na xícara. Em cada superfície imóvel do quarto não mais vazio.
Sempre soube que paixão era só um jeito de sentir. Não era. Paixão cheirava a creme e tinha gosto de café.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Despedida

Foto: Pedro

Há nós e a tarde...
Uma mudez plácida
E uma pacata incredulidade

Há o aceno
que se alonga
Lento e obediente
E qualquer coisa pungente
Que se hospeda no meio do peito.

É quando a alma
não alcança
O que é da razão entender.

Há uma linha traçada
E esse sentir afoito
Que descofio
Já ser saudade...

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Viver [no tempo mais que perfeito]

Ando à mercê do tempo. Se ele sabe conjugar seus verbos, então eu sento e aprecio a lentidão das coisas de fora, ainda que cá dentro, elas passem à velocidade da luz. Mas é o tempo da espera. Da poeira que aninha-se ao solo depois da chuva, da flor que perde seu perfume para ganhar sabor. São meus dias de outono. Não há perdas nem ganhos. Há o aprendizado. É tempo de espera e não há enredo. Mas eu penso que os aguardamentos as vezes cabem certinho no meio dos nossos desejos confusos. Então eu calo no fundo da alma todas as minhas urgências e me dou de presente esse estar em mim, e permaneço assim, até que toda energia (meu sol particular) retorne à morada do meu corpo. É preciso entender os sinais do tempo. E só os entende quem aprende a respeitá-lo. E quem assume os seus próprios limites. Não idolatro minhas forças nem silencio os meus medos. Mas tenho sentido meus dias muito parecidos. Até meus versos andam se parecendo demais e isso me provoca medo. Mas é ele também que me faz experimentar a contra mão, atravessar o lado de lá para sentir o vento que não sopra do lado de cá. É bom ousar. E esta sensação só é compreendida por quem descobre que o maior prazer da vida não é sentir-se confortável, é sentir-se vivo. Uma sensação de gozo infinito que faz a gente deslizar pelos dias como se fossem uma brincadeira gostosa ou um piquenique na praça. É que em mim não cabem as certezas, nem as previsões. Quem se preocupa demais com as coisas pequenas não consegue vislumbrar as grandes...Mas meu desejo é um grito silencioso que não tem pretenção de acordar aqueles que preferem o cais ao movimento das ondas.
Alguém chamaria de tédio, eu prefiro pensar que faça algum sentido, até que a espera revele algo bom, ou uma nova espera semântica.

domingo, 26 de abril de 2009

Querer

Se soubesses do meu amor...
Se tivesses
A exata medida
Jamais de teus olhos verteriam lágrimas
Que derramassem tristezas
Se soubesses...
Guardarias para sempre
em teu baú de certezas
o brilho dos meus olhos negros
O sorriso aberto em meus lábios
E a minha voz sussurrante...
E, se acaso a dúvida pairasse
absurdamente silenciosa
a melancolia
transbordasse a tua existência
A dor lhe roubasse a alegria
Orfão do amor ficasses
Da saudade escravo seria
Meu querer, então, invadisse o teu ser
E te revelasse enfim,
Todo meu amor por ti.

[Porque hoje é sua, toda poesia que há em mim]

domingo, 19 de abril de 2009

A poesia da mulher

Foto: Rui Choupeiro

A mulher que hoje vês
Não é a mesma que um dia viu
Tatuada de partidas
Ri menos e é mais feliz

Fala menos
E diz mais
Ri quando deseja chorar
Chora ainda quando deseja sorrir

Anda dizendo por aí
Que a outra, desiludida
Pôs as mágoas numa mala
E partiu sem despedida

Pegou mania de escrever
Deve ser para esquecer
A mulher que um dia foi
E que um dia, decidida
Resolveu dar cabo à vida.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Intransitável


Foto: Mariah

Este coração
área sujeita à desmoronamentos
Esse corpo
para sempre de mão única
Esse amor
para sempre, sem retorno.
Nesta avenida
Sinal vermelho pra você.

sábado, 28 de março de 2009

Sem Medida

Dispenso a métrica
a receita, a exatidão,
Dispenso a regra,
o modelo e o padrão
Dispenso toda certeza
e qualquer explicação.
Porque a vida,
A vida só tem graça se for inventada
E, ou se tem graça ou vira desgraça.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Última ceia

Um hálito de música ou de sonho soprava sobre o vácuo das lembranças dançando em sua mente ao ritmo de Stones. Mirou o nada buscando o espelho em que deixara perdida sua face.

O corpo, boêmio de sua matéria, repousava. O pensamento, à mercê de sua vontade insistia em mais uma vez, visitar-lhe. Guardava ainda na memória mais imediata o trajeto que tantas vezes percorrera, vindo agora, de súbito da direção da prateleira empoeirada como já era tempo de estarem aquelas imagens que lhe absorviam a alma.

Decidiu dar fim àquele assédio. Um taça cheia de desejos, sensações, frases, presentes, discos, beijos... sorvidas gole a gole. Um a um desejava que se volatizassem . Grudava em sua pele, seu cheiro; em sua boca, seu gosto. Sentia-se impregnada como o álcool que circulava sobre suas veias. O peito, uma caixa preta. Embriagada partiu para o último gole...

Entre os fantasmas que rondavam-lhe nenhuma pista de que infinito aqueles olhos aperolados estariam mirados.


Apagadas estavam as luzes dos postes. Apagada estava sua alma. Nem as estrelas ousavam brilhar.

Era escura a noite. Era amargo o doce e solitário Bordeaux.

sábado, 14 de março de 2009

Sobre poetas e poesia


Pra isto fora criado
Ainda, no sétimo dia
Pra falar dos girassóis
e dos beija flores
dos enamorados
e dos amores.
Poesia perfeita do criador
A rima, a inspiração.
E Deus fez o poeta
e viu que era bom.
E ainda, no sétimo dia
Juntos, admiraram a sua criação.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Segredos

Não acredites em minhas palavras porque elas são demasiadamente traiçoeiras. Elas pensam demais e são coloridas de verniz. Minha verdade é minha crença e minha crença é mentirosa. Apenas me aquieta e me distrai, enquanto o sol me chama e a lua me põe pra dormir.
Não acredite , elas são uma farsa.
Se quiser saber de mim, meus olhos são pedra bruta em rio de águas transparentes. Neles não cabe a racionalidade dos homens que pensam. São tão verdadeiros que as vezes chegam ser cruéis, desnudando uma alma que já não guarda a inocência que eles ainda mantêm.
Minhas palavras tem argumentos demais. Mas são meus olhos que me dizem pra que tome cuidado, meus olhos não conhecem contradição.
Minhas palavras me narram, meus olhos me sentem.
Minhas palavras são história; meus olhos, só poesia.
Por isso quando quiser saber de mim, não ouça minhas palavras, elas ainda não aprenderam amar.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Poema Onomástico

Para quem meus posts estavam muito profundos, um profundamente raso... :-)

Tem nomes que sempre são...
Todo Zé é José
Todo Chico é Francisco
Tonho é sempre Antonio
E Tião, Sebastião

Há outros que podem ser...
Suzi quem sabe, Suzana
Adri, talvez Adriana
Guto é quase Augusto
Toda Tati é quase Ana

E há aqueles que nem sempre são...
Ariel tem um pouco de Lúcifer
Anunciação as vezes se cala
Aparecida sumiu várias vezes
Ariana pode ser virgem
Margarida tem alergia a pólen.
Ágata as vezes se ofusca.
Rosário é ateísta
E Generosa, egoísta.

Aurora gosta da noite
E Domingo gosta do sábado.
Angélica é diabólica.
Constante já chegou no fim
E Amado nem é tanto assim.

Norma é uma desregrada
Branca é bronzeada.
Amador é profissional
Benigna as vezes é mal
Das Dores é muito saudável
Pilar, muito sensível
Eugênio é muito simplório
Albino tem pele morena
Flora adora animais
Bárbara nem sempre é cruel
Assim como nem toda Isa
tenha que ser Isabel

Graça não tem senso de humor
Remédios é homeopata
Vitória sofreu grandes perdas
Plácido ta sempre nervoso
Só Lindomar é mesmo maravilhoso.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Amor sem prazo de validade

E se amei tão de repente
E se a promessa
desfêz-se
quando os olhos repousaram...
Restaram as palavras
Contidas no teu silêncio...
E troquei a seiva dos olhos
Por um sorriso insistente
Que por desejo ou vocação
espelha-te
A cada vez que te ouve
em notas e acordes...
Aquieta em meus braços
E repousa agora sem pressa
Enquanto velo teu sono
Enquanto dormes eternamente
Cá dentro do meu peito.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Alinhavando

Ontem por causa dessa postagem do Fabio, lembrei de uma história que escrevi no ano de 2007 e que dedico ao meu pequeno Gianluca, meu maior fã e o grande incentivador dos meus rabiscos, que completou ontem, dia 12/02, oito anos. 

Vó Julia mora numa casa, numa casa junto com um gato. Uma casa muito bonita, com um gato muito matreiro. Um gato que adora dormir, em cima do seu travesseiro.

Enquanto borda, vó Julia espia o danado, um olho no bordado e o outro olho no gato.

Mas a vozinha cochila e o gato matreiro aproveita, dá um pulo, sobe na cama e no travesseiro se ajeita, se espreguiça, se estica, boceja e volta a dormir.

Ronca o gato no travesseiro, ronca na cadeira a vozinha. Dorme tranqüilo o gato, dorme a vozinha bordando pano de prato.

Passa o tempo, tic-tac, tic-tac sem parar. Acorda o bichano, dorme a vozinha, ronca e dorme e continua a roncar.

O novelo cai no chão, o gato começa a brincar... Puxa, rola, estica o fio e continua a esticar.

E o novelo rola, rola.... e rola cada vez mais e vai parar no jardim, essa história é bem assim: não é pra falar só de gato, nem só pra falar de vozinha, é pra pensar sobre coisas, é pra falar sobre linha.

Pois estava a linha no jardim, quando um vento forte passou e a tal linha, a do novelo, a que o gato brincava e a vozinha bordava, bem pro alto ele levou... subindo e fazendo curvas,fazendo curvas no ar, a linha se esticou e numa nuvem se transformou.

E alinhavando, a linha vai...O vento levou a nuvem passear na imensidão. Quanto mais ela andava, mais feliz ela ficava, pois aos poucos percebia que em todos os lugares estava.

E novamente veio ao chão, passou montanhas e vales, passou por casas, por caminhos, passou também por rios e pontes.

Até que observando lá longe viu outra linha interessante.

Esse mundo é muito grande! Grande, enorme, gigante...Pois não é que quando achamos que lá longe ele termina, bem ali ele começa, pois atrás daquele monte, lá onde o sol se esconde, fica a linha do horizonte! Uma linha sempre bem reta que tem um destino certo, sumir pra longe, bem longe, cada vez que chegamos perto.

E da direção do horizonte vem um trem a apitar.
_ Piuiiiii! Piuiiiiii!Vem trazendo muita gente, vem fazendo um barulhão...

E por onde anda o vagão? Olha só que descoberta! É uma linha diferente a tal linha do trem, que não serve pra costurar, é só para o trem passar.

E o trem leva as pessoas para lugares distantes, por esse mundo sem fim.


E uma coisa muito sem nexo que a linha descobriu, uma linha que não é linha porque de fato nunca existiu.
Pois é isso mesmo que eu falei, como isso pode, eu não sei. Uma linha imaginária, olha quanta imaginação! Quem seria o criador da tal linha do Equador?

Pra registrar tamanha aventura, a linha então decidiu, faria uma linha do tempo, desde o instante em que subiu.

E pra terminar a história, se não me falha a memória, tem também a linha de raciocínio, que são idéias organizadas que a cabeça da gente tem.

Então para não me perder, eu vou logo é dizer, que a vó, a do começo da história, acordou já era hora, e ao ver aquela estripulia, puxa o fio, começa de novo enrolar...
E a linha então se dá conta que depois dessa viagem, já é hora de voltar, porque sabe que é uma linha, só uma linha de bordar. E alinhavando, a linha volta...

O gato? Ah, o gato! Adivinhem onde está, qual é o seu paradeiro. Isso mesmo, adivinhou, está a dormir no travesseiro!

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Estação

Fez-se verão, semeei flores, teci versos, vesti-me de alegria...
Rigor de inverno, frio que transpassa, dor que ameça, letargia
Outono...
a aragem soluça entre as ramas curvadas, o vento assovia
e a primavera tão docemente anuncia...
É tempo de cultivar sempre-vivas, lembranças eternizadas em poesia.
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*
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sábado, 7 de fevereiro de 2009

Cais

Foto: Pedro Moreira

Me incomoda o desamor,
a desordem, a descrença
Me incomoda a violência.
Me incomoda tudo isso
Mas incomoda ainda mais
Saber-me não mais meu cais.

[Porque se me perco, nada mais me incomoda]
***

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Rico menino pobre

Foto: Maria Flores

Minhas palavras foram retribuídas com um sorriso acanhado. Disse-me que sentia saudade, mas que estava feliz porque logo, outra vez nos veríamos.
Seus sonhos em preto e branco confundem-se com pessoas, carros, ruas, ruídos e esmolas. Conhecera a face austera da pobreza cedo demais. Coleciona perdas, esperanças e latinhas. Tudo dentro da retina dos olhos do menino, que estranhamente brilha, refletindo uma luz fúlgida, como em poucos se vê.
É apenas número, mais um. Anônimo, vagante, sonhando em um dia poder tocar à lua com as mãos ou quem sabe, na gravidade desse planeta errante, ser mais que a roupa desbotada que lhe encobre o corpo franzino.
Trocamos afeto, lições dos livros e lições de vida.
Olho-o por instantes enquanto anda...
Ele volta, desabrochando em sorrisos, agora para se despedir:
_ Até segunda então!
Nenhuma nódoa de tristeza.
Seus olhos miúdos abrigam duas estrelas.

Meme

Fui vitimada, digo, indicada :-) pelo Fred para este meme:

1-Agarrar o livro mais próximo;

2-Abrir na página 161;

3-Procurar 5ª frase completa;

4-Colocar a frase no blog;

5-Repassar pra 5 pessoas;

Bom, o livro mais próximo era um dicionário :-)
Ao segundo mais próximo então:

É fácil de ver que se Caim e Abel realmente tivessem existido como filhos primeiros do primeiro casal humano, não teria Caim encontrado mulher para com ela se casar.
( Extraída do livro Os Exilados da Capela de Edgard Armond)

O convite para seguir o meme vai para os amigos que passarem por aqui.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Absoluto

Foto: Deivid Jardim de Araújo

Derramo-me sobre o papel, encharcando-o de sentimentos, de quereres, de vazios...
Escrevo meus exílios, faço-o cúmplice dos meus silêncios.
Escrevo mistérios sem compromisso. Não desejo a explicação, respeito-os apenas, privando da sua identidade.
Selamos nosso pacto. Não de vida, nem de morte. Não é disso que me faço. Revigoro-me no inusitado, na catarse, espasmo de um transbordar-se latente desse desabitado ser.
Reside em mim um não saber, uma falta que alimenta o desejo, a calidez, a volúpia de sentir.
Completo-me nas palavras e naquilo que faltou dizer, mas que direi da próxima vez, no próximo verso, que virá perfeito, capaz de traduzir o que ainda só sei sentir...
Em todos os versos, enquanto houver sol.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Feliz Dia Novo



Foto: Pedro Rodrigues



Fiquei parada, sentindo... O sol adentrando a janela, rompendo a barreira de vidro , me desejando bom dia. Senti e apreciei. Sol acordando de manhã, assim , lânguido, preguiçoso. Como gosto! É uma das sensações mais agradáveis que já senti, lembra abraço.

Feliz dia novo, foi o que me desejei. Porque no corre-corre de todo dia a gente nem sempre se deseja um bom dia. Ouve na rua, no trabalho, na escola, mas nem fala com tanta convicção e nem absorve direito.

Andei hibernado nos últimos dias. Mesmo com o sol lá fora me convidando para a farra de viver. Hoje, logo cedo, aceitei o convite. Fui caminhar. Vi alguns amigos, respirei devagar, sorri e comprei sementes de gérbera. Na volta um suco gelado e o som de Margarete Menezes e Luis Represas.

Meu filho me esperou com um cartão feito por ele onde escreveu: "Mãe as vezes você é xata mas eu gosto de voce!" Só assimilei o final. Beijei-o.

Recebi uma ligação de uma amiga que está morando longe e com quem não falava há muito tempo. Que agradável surpresa! Tive certeza, felicidade é feita de momentos, na grande maioria das vezes, breves e simples.

E a gente fica esperando grandes acontecimentos, ingenuamente pensando que são estes que nos farão verdadeiramente felizes. Podem até fazer, mas convenhamos, eles são raros. E aí vamos esperar que aconteçam para só então sermos felizes?

Lembrei dos versos de Drummond:



Para ganhar um ano novo

que mereça esse nome,

você, meu caro, tem de merecê-lo

tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil

mas tente, experimente, consciente.

É dentro de você que o Ano Novo

cochila e espera desde sempre



Um ano novo, começa sempre com um dia novo e um feliz dia novo pode ser um dia qualquer. Os dias não acordam todos iguais. Basta olhar devagar. As vezes são pequenas coisas, as vezes, grandes acontecimentos, as vezes apenas o sol te convidando pra passear.



Feliz dia novo!


terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Prolongamento

De tudo quanto já foi
Da efemeridade da vida
Existe o eterno
Sentimento renitente...
Das angústias que não mais consomem
Às dores que já não se sente
Lágrima que já não verte
Às sensações do corpo dormente.
Mas existem,
Porque são a intensidade
das coisas que guardam beleza
Das que não mais existindo,
Ainda são.
E são
Porque transcendem
E tão demoradamente
E com tão divina força
Que são mais vivas
que a própria vida.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Precisa, perfeita

Foto: Hideshiro Kakuda Jr.

Não devemos ter medo do confronto. Até os planetas se chocam. E do caos nascem as estrelas.

Charles Chaplin

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Saudades de mim

E foi isso... Soou o meu toque de recolher e eu decidi que vou cuidar de mim. Me amar ao ponto de não mais ser refém de outros carinhos. Uma tentativa de felicidade auto-sustentável. Não é egoísmo, nem prepotência. É desejo. Desejo de ser livre. E um não desejo de outorgar à outras pessoas uma responsabilidade que é minha.
Quero amigos, carinho, paixões, amor, reconhecimento, elogios, surpresas... Mas quero atingir a minha maioridade emocional.
Tenho estado só. Mas vivo uma solidão boa. Foi Sartre quem disse "Deus é a solidão do homem". Estou comigo e estou em paz.
E Fernando Pessoa, (muitos disseram, a solidão é inspiradora) "Enquanto não vivermos a dor da nossa própria solidão, continuaremos a nos buscar em outras metades". Para amar o outro, precisa se amar mais. E se amar é descobrir-se inteira. E eu me amo quando compreendo que ausência não é falta. E que amar não é acabar com a solidão, é compartilhar solidões.
Estou bem, estou apenas matando a saudade de mim.

Sobre isso indico uma crônica de Rubem Alves: O Barba Azul

domingo, 11 de janeiro de 2009

Dama de Vermelho

[...]
Quando nos reencontramos
Muitos anos mais tarde
Disse-me que não mais me reconheceria
Não fosse pelo meu cheiro
Que ainda exalava do seu paletó.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Ceifadora de Almas

"Por favor confie em mim. Decididamente, eu sei ser animada, sei ser amável. Agradável. Afável. E esses são apenas os As. Só não me peça para ser simpática. Simpatia não tem nada a ver comigo." ( A morte)

Aproveito meus dias de ócio para por em dia a leitura de vários livros iniciados e abandonados na estante por pura falta de tempo. Esse fora presente, A menina que Roubava Livros, de onde extrai a citação anterior.
Eu tenho tentado, mas a morte pra mim, ainda e especialmente hoje é o retrato do assombro, da perplexidade, do estarrecimento.
Hoje ela me roubou um amigo da forma mais vil, estúpida, cruel, injusta e desumana que poderia ter feito. Eu até entenderia se ela chegasse mansa, sem sofrimento, longe do horror, dos hospitais, sem sangue, sem dor e quando estivéssemos entre as pessoas mais queridas. Mas hoje, ela preferiu chegar assim, como pode pedir então que ainda confie nela???
Hoje, para mim ela voltou a apresentar-se encoberta com um manto preto e um capuz carregando em uma das mãos uma gadanha e na outra uma foice.
Dizem por aí que a vida é um sopro. Não é. A vida é uma chama que arde. A morte é que é um sopro. Que apaga a chama deixando a gente perdido em meio à escuridão.
Tento buscar nas minhas crenças uma explicação satisfatória para acontecimentos como este. Segundo estas, muitos espíritos se oferecem em sacrifício para auxiliar outros, em processo de evolução mais lento, sanando assim, algum débito anterior e cumprindo dessa forma seu próprio processo de aprimoramento. Mas por ora, nem esse entendimento conforta.
Quando uma pessoa por quem tínhamos apreço se vai, com o tempo a gente aprende a aceitar a morte. Difícil é conviver com a tristeza. Conforta apenas constatar que enquanto vivera, fizera isso no sentido mais amplo da palavra. Intensamente. Mário Quintana uma vez escreveu: "Morrer, que me importa? (...) O diabo é deixar de viver." Tem gente que morre, sem nunca ter vivido.
Ficam na minha mente um série de porquês e uma constatação que só faz aumentar a minha dor: Na trajetória efêmera do relógio existencial, o nascimento e a morte estão bem próximos. Na vida, tudo é provisório. Inclusive nós.
Fica no meu coração uma dor e uma verdade: Morte é onde mora a saudade.
Uma última nota: os seres humanos me assombram. ( a morte)

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Para Marisa

Eu duvidei por não reconhecê-lo possível. Porque você chegou sem avisar. Eu, como flor que se fecha ao entardecer e é a(cor) dada no dia seguinte com um calorzinho bom mandado só para fazer revelar sua essência, a mais cheirosa. Fiquei sabendo depois. Você atendia pelo nome de amor.

Você, que me olha sempre tão devagar, quando a maioria se ocupou em me olhar tão rapidamente. Amizade que chegou sem promessa...assim, bateu-me à porta simplesmente pedindo abrigo e eu, que por hora me alimentava de sonhos de cotidianos estreitos vi meus dias sendo coloridos em tons azuis que me emprestava.

Uma cervejinha gelada(...) e prosa, vez em qundo feita em verso, qualquer coisa trocada por aquelas melancolias bobas de uma tarde de domingo.

E o abraço que inventamos... disfarce que a vida sempre tem pra fingir que é sempre bela. É quando o amor é tudo! É quando tudo fica melhor...

Quantas palavras destinadas a definir tantas razões desconhecidas.
Assim pudesse o poema como pedra esculpida, revelar toda a beleza que existe no azul dos nossos dias e traduzir a leveza dos nossos verões. Nossa estação mais bonita.