terça-feira, 30 de dezembro de 2008

2008 - Uma retrospectiva pessoal

Não costumo planejar muito. Gosto mais do acaso, embora acredite que o que recebo como acaso, já tenha sido escrito em alguma das muitas agendas passadas que possivelmente rabisquei. De qualquer forma minha meta de vida hoje é ainda me surpreender. Vivo com integridade e trabalho com dedicação, não guardo muitos papéis, nem adianto muito o serviço, estabeleço poucas datas, as imprescindíveis para superar o caos. E aguardo. (As sessões de reiki tem me ajudado nessa empreitada, conviver sem tanta ansiedade)
Esse ano foi um ano de algumas conquistas. Se tivesse que defini-lo numa palavra diria que foi o ano das parcerias.
Profissionalmente comecei março com o encontro presencial realizado com a Apae de Joaçaba, depois de um ano de intercâmbio cultural (virtual). Um momento emocionante que selou minha amizade com a professora Janete com nossa ida pra vizinha cidade que tem o melhor carnaval do sul do país.
Um problema de conexão me manteve "fora do ar" até junho (trabalho emperrado).
Em junho, um novo projeto de intercâmbio envolvendo escolas especiais de Santa Catarina, Rondônia, Tocantins, Minas Gerais, São Paulo e Pernambuco.
Em agosto, através de uma parceria com a empresa Transforming, representante do Inspiration no Brasil, (software para criação de mapas mentais) recebi do Senhor Ricardo Amoroso, diretor da empresa que se interessou pela minha pesquisa e utilização do software com crianças com deficiência, uma licença gratuíta para poder utilizá-lo em rede no laboratório.
Em final de setembro, com muitos projetos em andamento e feliz com os resultados, recebi um convite para assumir uma nova função na escola.
Em novembro, a segunda etapa do encontro presencial e a vinda dos alunos de Joaçaba para Curitibanos, com um roteiro turístico de visitação e atividades de confraternização entre os alunos. (Emoções - parte 2)
Com o coração apertado por interrromper meus projetos e deixar meus pupilos, em novembro assumi o novo cargo.
Fiz amigos queridos e parcerias rentáveis. Vi meu filho crescer numa esperteza só e meu marido trabalhando mais do que sempre.
Termino o ano feliz, com algumas idéias em mente e uma única certeza. Um ano novo se inicia e eu quero poder vivê-lo intensamente.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

The End (or not)

Foto: Natália Lages

Que passem
Que venham outros
Não gosto de contar os dias
Gosto é de contar histórias.
Alguém apagou a luz e eu acabei gostando desse escurinho...
Tudo por conta dessa mania do blogger de ter vontade própria e não ajustar minha imagem aí em cima.
Ano novo, cara nova!

sábado, 27 de dezembro de 2008

Túneis no feno

Faz tempo...E a menina que adorava construir túneis no feno, cresceu.
Armazenado no galpão do avô, uma montanha do pasto que alimentava os animais era a um tempo só, passatempo e ofício de desbravar emoções. Inúmeros labirintos se formavam e entre ataques e esconderijos, a tentativa de encontrar a saída sem ser capturado. As horas eram breves e os dias curtos. Suficientes, porém para viver toda a intensidade das pequenas grandes coisas que humanos definem como inesquecíveis.
Era a capacidade de surpreender-se a cada novo percurso que a envolvia, era a escuridão da trilha e a emoção de enxergar a luz ao final, era a aventura de não saber, que tornava o marrom dos seus olhos ainda mais brilhantes. Os labirintos entrecruzados não permitiam visualizar quem iria encontrar e nem onde eles iam dar.
Hoje, quando debruçada sobre as tardes longas e a mesa tomada por papéis e livros, ela se dá conta que rotina é nada mais que saudade de brincar nos túneis de feno.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Camaleoa

De dia, é (cozinha), uma gata-borralheira
De noite, muda de roupa,
fica cor da pele
Se camufla entre os lençois
É (cama) leoa.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Da minha leveza

(Desconheço autor da foto)

E dos verões que chegaram e dos que partiram... Troquei o vento norte pelo vento sul e descobri que escolhas são inevitáveis. O céu de hoje recobrou o azul das tardes em que o sorriso colava em minha boca e eu ria e ria e você me falando das gostosuras da vida. De um tempo que de tão doce impregnou-se, cheiro, sabor e textura. Um linha tênue separa o que foi do que é. Tudo é meu presente. Tudo é paisagem inédita, sempre. Se vivo de sonhos é porque as nuvens são meu chão firme. Minha leveza é a dos sonhos. Tenho culpa se o mundo que eu quero não cabe nesse que eu vivo? Se meu mundo é belo, mesmo antes de ser verdadeiro?
Minha carência é da emoção que os sonhos que me dão. Porque todos os dias são azuis mas eu prefiro os que são mais azuis que os outros. Eu não quero chegar a lugar nenhum. Eu só quero pernas bambas, boca trêmula, palavras que não saem, coração em descompasso. Até o caos me é bem vindo quando fico excessivamente cósmica, e desejo-me inquieta, bagunçada inteira. Quase uma obrigação de me sentir viva ou fazer algo que quebre essa rotina insana que se impõe assim. Assim, como quando olho para o infinito e dou de cara com o fim.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Porque viver não é preciso

Não gosto de muros
nem cercas - vivas ou mortas
paredes me causam asfixia
gosto da imensidão
de tudo que está além do toque
fora do ângulo de visão
Gosto do mar sereno
que deságua num mistério sem fim
gosto de quando navego
nas águas dentro de mim.

domingo, 21 de dezembro de 2008

De tudo e do nada

Foto: Geisa

E o que era fluídico, foi ficando rarefeito e volátil dissipou-se.
Dor, agonia.
Máscaras de oxigênio, massagem cardíaca, um último suspiro e a morte.
Restava a solidez da verdade. Doída, densa, compacta, cruel.
Sobraram resquícios líquidos de um amor que não vingou. Sobraram lágrimas de quem partiu sem nunca ter chegado. Duas taças e uma garrafa de vinho esperarão pelo nosso derramamento. Sobraram lágrimas de um funeral. Sobrou a saliva de gosto amargo na boca e a tão amarga constatação de que nada fora tão sólido quanto parecia... Sobrou um adeus. Sobrou uma vontade inútil de ficar um pouco mais. Chamam isso de saudade. Sobrou uma inscrição sobre a lápide: Aqui repousa um coração triste que viveu um grande amor.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Mulher bomba

Dessa vez ele fora longe demais. O casarão dos tatatataravós?!?! Ah não! Tudo bem que o apartamento fosse uma caixa de fósforos , mas já havia falado, estava escrito no manual da esposa sem crise que ele bem conhecia, (preservado algum infortúnio - que Deus a poupasse) só sairia dali pra um lugar mais decente. Claro, ele estava brincando! Bebeu um rabo de galo, era isso. Sempre soube do seu amor pelas coisas da família e pelas quinquilharias preservadas com veneração, mas definitivamente não, eu não tinha nada com isso.

O casarão que lhe trazia as boas lembranças da infância pra mim não passava de uma tapera velha, escura e mal assombrada, sinistramente decorada com uma parede inteira de velhos barbudos e velhotas corcundas enfileiradas, que pareciam me olhar como quem dissesse: "Olá tatatataranetinha, você ainda vai morar aqui!" Arre! Sai de mim!

Uma, mais do que as outras me causava arrepios. O olhar me atravessava a alma deixando os pêlos do meu corpo eriçados. Era uma velha com longas madeixas acizentadas presas desageitadamente num coque no alto da cabeça. O rosto retamado de vincos era uma textura de papelão amassado. A cabeça levemente abaixada e os olhos mirando à frente sabe-se lá o quê pareciam me procurar. Eu evitava-os. Mas, por vezes, os meus esncontravam com os dela, fulminantes. Sem fazer questão de manter o foco meu olhar dissipava-se, procurando algo menos nefasto.

Mas até a lembrança deles me causava pavor.

Manti-me concentrada no jantar, apenas ouvindo. Ele eufórico.

Empolgado, ele falava em como disporíamos os móveis e nos gastos que teríamos na reforma da varanda...
Quem ele pensava que era, passando assim, como um trator por cima dos meus sonhos! Sonhos que muitas vezes tivemos juntos!

Auto controle era uma das minhas qualidades. 1, 2, 3, 4, 5....
Ele sabia disso, estava me testando. Me esforcei.
_Baixa o som dessa TV por favor!
_Calma benzinho! Não teve um bom dia hoje?
Fiz de conta que não ouvi.

Ele continuou:
_Meu bem, você precisa ir lá ver. Quem sabe uma faxina... As paredes da sala estão tomadas de teias de aranha...

Continuei de costas, concentrada no meu picadinho.
_ Você também pode pensar numa decoração diferente para a sala, só não pode mexer nos quadros.
1, 2, 3, 4, 5... Explodi.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Inatingível

Ela era doce, ele diabético
Ela uma flor, ele alérgico
Ela o arco-íris, ele daltônico
Ela o sol, ele albino
Ela a luz, ele cego
Ela o ar, ele asmático
Ela poesia, ele analfabeto
Ela música, ele surdo
Ela uma deusa, ele ateu
Ela um tesouro, ele um mendigo.
Ela surreal, ele lógico
Ela absoluta, ele relativo.

Amaram-se e viveram assim. Distantes.
E porque distantes, eternos amantes.
E porque inatingível, o grande amor.

Se as coisas são inatingíveis... ora! Não é motivo para não querê-las... Que tristes os caminhos se não fora a mágica presença das estrelas! (Mario Quintana)

Cá entre nós (eu e meus eus)

(Desconheço autor da foto)

Há aqueles pra quem a palavra dita,
é como oásis para a alma sedenta...
Eu prefiro a palavra ecoando
A que passa, transpassa
tácita, soturna, hermética
Propagando-se entre as linhas
Dessa página em branco.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Da fúria

A natureza indócil se abala
O incauto sofre sua fúria
E sob olhos encharcados
de líquidos vermelhos barrentos
os corpos se mesclam...
Os olhos não crêem
Os olhos usam vendas...
Pseudo deuses do universo
dominam as regras dos homens,
Mas desconhecem as leis da causalidade
Que olhos perplexos agora lêem
em letras de lama, sangue e lágrimas.


Ps.: Nosso Estado está se refazendo e voltará em breve a ser a nossa sempre Santa e Bela Catarina.

Pensamentos soltos

Por não desejar ser eu mesma o tempo todo, por isso escrevo. E quando escrevo sou várias.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Sobre o tempo (e o amor)

Foto: Elis Zampieri

E eu descubro a paz quando você me olha e teus olhos são como os meus. Eles me contam do tempo que tinha seu tamanho e seus sonhos e de quando meus pensamentos viviam em férias. Mas eu já caibo inteira no seu abraço. E eu te vejo agora construindo lógicas, falando de foguetes e naves, de dinossauros e capitais. Tão pequeno que quase cabia nas minhas mãos abertas, desejosas de ser coração e delicadeza pra poder tocar tanta fragilidade. E eu te sentia tão meu. Hoje você é vida que me escorre. Mas você compensa amor com amor e me faz ver que o tempo amadurece o fruto e o sol deixa-o ainda mais doce. E porque a natureza é velha e sábia senhora, eu busco a intensidade que ela me oferece ainda que a brevidade me roube a sensação do vento que brinca com os meus cabelos numa tarde quente e do sabor do seu beijo e da sua boca sugando meu rosto. Porque tem coisas que duram apenas uma eternidade. E enquanto o tempo te leva pra passear eu junto letras para embrulhar esse pacote de lembranças e me perco olhando as pétalas que voam. Elas já me perfumaram as mãos e "por desfolharem-se é que não têm fim". (Cecília Meireles) E eu vivo dessa magia que transforma pétalas amarelecidas em buquês de saudade.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Senhora Chiquetosa

Equilibrando-se elegantemente no scarpin caramelo, ela reclama da micose que lhe tomara os dedos dos pés e que se proliferava rapidamente nos últimos dias. Alguém aconselha:
_Creolina!!! É um santo remédio! E desabafa esses pés, se não queres perder os dedos!
_Creolina??? Mas isso lá é remédio de gente?
_É, de gente não é não, mas cura.
Era a segunda pessoa a lhe falar isso. A enfermeira da farmácia do seu Manoel já havia feito a indicação, sinal de que o germicida fétido era mesmo eficaz. Convencida, dirigiu-se até a lavanderia encarregando a faxineira do tratamento diário dividido em duas sessões. Logo pela manhã e à tarde.
Pelo corredor, no seu toc-toc personalizado, reconhecível até mesmo quando substituído por um único toc de passo manco, no seu andar refinado ela adentra a sala da direção com o sapato de bico fino na mão. Alguém reclama do cheiro insuportável que se alastra por onde passa. Ela não perde a pose.
Reaparece na sala com um frasco de pomada nas mãos, senta-se na cadeira de estofado cor de abóbora, e começa a massagear o ombro direito, acometido segundo a própria, por uma bursite daquelas de tirar o sossego. No rótulo da embalagem lia-se: CALMINEX, uso veterinário. Indicação da avó.
No dia seguinte, pede para a secretária fazer uma ligação, marcando uma consulta com a doutora Camila.
De pronto ela toma a agenda e completa a ligação. Do outro lado da linha uma voz suave atende.
_Clínica Veterinária Cães e Cia bom dia! Em que posso ajudá-la?