terça-feira, 30 de setembro de 2008

Das coisas que não vivi

O beijo que não roubei
o baile que não dancei
a paixão que não declarei
o amor que não vivi,
o arrepio que não senti
Um tudo que virou nada.
Escrevi...
declarações,
paixões,
dores,
amores...
Letras jamais lidas
sensações jamais entendidas.
Menti...
Que sentia o que não sentia
Que não sentia o que sentia
Fingi...
Que sua presença não me roubava o sossego
Que sua ausência não deixava saudade
Endureci...
Economizo lágrimas...
Poupo minha sensibilidade.
Aprendi
Que a gente se arrepende do que não faz
se arrepende também do que faz...
Esqueci
Não quero lembrar...
Vivi
e me perdoo por tudo que não me permiti.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Voltas

O mundo dá tantas voltas que por ora não estou conseguindo pensar... estou tonta.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Decepção

Trazia no peito uma mágoa insistente, e como doia, e como fazia sofrer... As vezes ela até dava uma trégua, mas em dias e que a cabeça se via livre pra pensar, ela voltava... latente, pungente.

Saudade dói, tristeza dói, desprezo dói, ficar longe de alguém que a gente gosta dói... mas de todas as dores, acho que a dor que dói mais é a dor da decepção, porque decepção é uma dor sem esperança, é uma dor que perdeu a razão de existir. É uma dor que se descobre absolutamente desnecessária. Mas mesmo assim ela dói. O pior é que você tem consciência que ninguém merece aquele sentimento, muito menos você e mesmo assim você sofre.

Decepção é uma dor devastadora... uma ventania, um ciclone, um tornado que passou, derrubou seus castelos de areia, carregou seus sonhos e destruiu todas as suas fantasias.

Decepção é a dor do engano. Você idealiza, imagina um ser real. Quando se dá conta, criou um personagem de um conto de fadas e o pior, nessa narrativa ele é o vilão. Inevitável. Ela começa a latejar.

Decepção é uma dor sem motivo, sem pra que e sem por quê. O tratamento é prescrito em doses homeopáticas à conta gotas. Tratamento as vezes longo, contra decepção só existe um medicamento e se chama tempo. As vezes ele não elimina todos os sintomas, mas os suaviza ou te ensina a conviver equilibradamente com sua dor, de forma que você reserve a ela um lugar cada vez menor no seu coração.

Agora quando a dor lhe abarca o peito ela olha para o relógio e para o futuro, senta-se e espera... ela sabe que o tempo vai passar.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Apenas versos

São versos preguiçosos
Palavras sem intenção...
São letras que se embalam na rede
Sem por quê, sem tempo, sem razão...

São versos manhã de domingo
De dias ensolarados
Tal qual os pássaros do alpendre
Não cantam eles porque vivem
Vivem também porque cantam,
E porque cantam, encantam...

São versos de fim de tarde
Subversos...submersos
imersos em sua própria arte
Versos de sonhos diversos.
Versos que acompanham as nuvens
Caminhantes sem direção.
São apenas pensamentos...
Versos órfãos de razão.

Versos andarilhos
Que buscam apenas...
expressão, vazão, emoção.

São versos irresponsáveis
Palavras sem compromisso
Versos vagabundos,
vagando sem pretensão...
Porque são apenas versos
Versos que quando se encontram
Descobrem sua razão...

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Despindo-se

Aos poucos ele vai tirando a roupa, as peças vão caindo...Eu babando, olhos estáticos como se quisesse imortalizar aquela cena, digna de ser e eternizada numa pintura e emoldurada num quadro. Sem preconceitos nem pudor, ele se mostra por inteiro. Ele chora e eu consigo ver sua alma.

As lágrimas vertem de seus olhos deslizando insistentemente pela face bem torneada, denunciando toda a fragilidade de um menino no corpo de um homem. Ele ainda se permite ser criança, eu me permito emudecer e apreciar.

Quando um homem chora, ele fica nu, porque homens costumam usar armaduras. São cavaleiros medievais prontos para o combate. Elas os protegem, os tornam menos vulneráveis. Alguns se acostumam de tal modo com ela que não as tiram nem pra dormir, o corpo acaba tomando a forma da vestimenta de ferro que os envolve, sentem-se de tal forma seguros que não conseguiriam mais sobreviver sem elas. Aos poucos, vão ficando tão endurecidos quanto o metal pesado que os reveste o corpo.

Quando um homem chora ele rompe as armaduras e descobre o quanto a sensação de liberdade é mais intensa que a de proteção. Ele lança-se ao chão, joelhos em ângulo e um pedido de trégua.

Lágrimas são o mais perfeito dialeto da alma. É a forma mais sublime de se falar sem pronunciar coisa alguma. Lágrimas são sempre uma catarse. É na hora que choramos que a expressão "lavar a alma" faz seu maior sentido.

Se para um homem, a visão de uma mulher chorando os faz sentir sob areia movediça, para uma mulher, a visão de um homem nessas circunstâncias desestabiliza ainda mais. Mas essa é uma daquelas experiências que quero poder vivenciar infinitas vezes. Quando os olhos pasmam e as palavras não saem, o corpo fala por si e eu permito despir-me também.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Pequenos Prazeres...

Graciliano Ramos definiu a arte de escrever como o ofício das lavadeiras...Aquelas que lavavam a roupa a beira do rio, batendo-as na pedra até desprender-se delas toda a sujeira. Um processo lento, simples e que exige dedicação. Segundo ele... "A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."

Dentre os prazeres que tenho na vida, um especialmente exerce sobre mim verdadeiro fascínio, eu me rendo aos seus encantos... Entre as letras eu percorro mundos, volto a ser criança brincando de fazer mágica, me emocionando com as fadas...

Elas sempre me acompanharam... ocuparam meu tempo, me divertiram ou me emprestaram sua companhia em meus momentos de melancolia e solidão.

Houve tempo em que desacreditei do sonho...me perdi. Um caldeirão prestes a explodir, borbulhante, efervescente...Terreno fértil, lápis, papel e muitas idéias suplicando extravasar... Pólen em fartura fez germinar belas espécies: gerânios, petúnias, lírios tulipas, antúrios e orquídeas. Elas hoje me enebriam com seu perfume e me faz feliz a descoberta que estou aprendendo a cultivá-las. Entre letras, leituras, escritos, poesia e beleza, algumas revelações e o reencantamento pela vida.

Tenho especial admiração por escritores que me apresentaram ao mundo da fantasia, aqueles que me fizeram entender e valorizar a beleza e o mistério das coisas que não existem. Tantos... Ana Maria Machado, Sylvia Orthof, Monteiro Lobato, Eva Furnari, Cecília Meireles, Tatiana Belinky, Roseana Murray, outros e mais outros que minha memória engavetou e que não se abrem agora... Ainda hoje, a criança que mora em mim alegra-se ao deparar-se com eles e suas histórias fantásticas.

Foram muitas... lidas, relidas, contadas e imaginadas. Suas histórias que me ensinaram a ler, hoje me inspiram e me ensinam a escrever, assim como lavavam roupa as antigas lavadeiras à beira dos córregos.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

As flores da minha infância

Elas pareciam um véu de noiva, daqueles bem longos que se desprendem dos vestidos e deslizam sobre os numerosos degraus das catedrais ou tomam todo o espaço do átrio das igrejas. Se a memória e a imaginação não me traem, esse é mesmo seu nome: véu de noiva, são flores miudinhas que escorregam suavemente pelos galhos em forma de cachos.
Hoje eu as vi, não são tão comuns, acho que pela primeira vez depois que mudei-me da vila para a cidade... E daí lá se vão alguns anos. Elas não tinham a mesma beleza de antes enfileiradas ao longo de uma grande alameda, ladeando a estrada...mas o cheiro era inconfundível. As lembranças inevitáveis.
Elas tinham também cheiro de sítio, de vó, de infância, do chão batido e poeirento, da água do rio, da ponte, das macieiras floridas e da corda da balança, do sótão escuro, do porão úmido cheirando a mofo e da pipa de vinho que ficava num canto do porão da velha casa de madeira que meus avós construiram e que resistira bravamente ao tempo, até ceder aos golpes do machado.
Algumas lembranças povoaram a minha cabeça.
Revi o tanque onde minha vó lavava roupa e por onde escorria lenta e constante a água que vinha direto da fonte. Lembrei dos sapos que coaxavam debaixo da madeira que cobria o chão da construção e das inúmeras vezes que pedi que meu avô as erguesse para que pudesse ver a grande quantidade de anuros que habitavam aquele espaço e, mais tarde, a minha imaginação.
Revi minha avó sentada atrás do fogão fazendo longas tranças com palha de trigo e os chapéus empilhados no canto da despensa.
Quase senti o cheiro das cobertas confundindo-se com o das flores, quando lá eu dormia e sentia uma coisa difícil de entender naquela época, abraçava-as e ao mesmo tempo me envolvia nelas, sentindo aquele calorzinho gostoso e aquela paz de quem vive sem ser apresentado ao dia de amanhã.
Tem momentos que a gente vive com tanta intensidade porque na verdade a gente já sabe que vão se transformar em saudade. Ou seria o contrário?
Acabei de entrar em terreno desconhecido, difícil falar de saudade. Como dizia o poeta... saudade é uma palavra esperando tradução. Alguém se habilita?

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Poema onomástico

Para quem meus posts estavam muito profundos, um profundamente raso... :-)

Tem nomes que sempre são...
Todo Zé é José
Todo Chico é Francisco
Tonho é sempre Antonio
E Tião, Sebastião

Há outros que podem ser...
Suzi quem sabe, Suzana
Adri, talvez Adriana
Guto é quase Augusto
Toda Tati é quase Ana

E há aqueles que nem sempre são...
Ariel tem um pouco de Lúcifer
Anunciação as vezes se cala
Aparecida sumiu várias vezes
Ariana pode ser virgem
Margarida tem alergia a pólen.
Ágata as vezes se ofusca.
Rosário é ateísta
E Generosa, egoísta.

Aurora gosta da noite
E Domingo gosta do sábado.
Angélica é diabólica.
Constante já chegou no fim
E Amado nem é tanto assim.

Norma é uma desregrada
Branca é bronzeada.
Amador é profissional
Benigna as vezes é mal
Das Dores é muito saudável
Pilar, muito sensível
Eugênio é muito simplório
Albino tem pele morena
Flora adora animais
Bárbara nem sempre é cruel
Assim como nem toda Isa
tenha que ser Isabel

Graça não tem senso de humor
Remédios é homeopata
Vitória sofreu grandes perdas
Plácido ta sempre nervoso
Só Lindomar é mesmo maravilhoso.